27 de julho de 2011

Nova Missão! A mesma alegria!


Hoje o Bispo da Diocese de Aveiro torna público o Movimento Eclesiástico ou seja, o conjunto das nomeações que realiza em cada ano para o trabalho pastoral da diocese. O Jornal Correio do Vouga apresenta essas nomeações. Entre elas, figura também o meu nome com a nova missão que me pede a Igreja que peregrina entre o mar, a ria e a serra, por terras de Aveiro.
Depois de ano e meio por terras de Águeda, onde cheguei em Outubro de 2009 ainda como diácono, pede-me a Igreja, por intermédio de D. António Francisco, que sirva na comunidade paroquial da Glória (Sé), em plena cidade de Aveiro, como Vigário Paroquial.
No dia da minha ordenação, no ano passado, prometi ao meu Arcebispo e aos meus superiores obediência e fidelidade, atitudes que assumo e quero continuar a assumir, com determinação e na prossecução dos objectivos delineados para a minha vida: ser feliz, seguindo Jesus Cristo! Foi com esse espírito que aceitei a nova missão que passa agora por terras aveirenses, sem alterar a alegria, o ânimo, o entusiasmo, a energia, mas mantendo também as minhas tantas limitações e falhas…
Ainda não é tempo para agradecimentos nem para despedidas (se é que tem que haver despedidas!!!). Para já, este fim-de-semana regresso a Águeda para continuar o caminho e o trabalho que tenho marcado com a ainda minha equipa sacerdotal da UPA. Seguem-se, depois, as Jornadas Mundiais da Juventude onde quero estar de corpo e alma, com tantos jovens da diocese. E depois logo se verá. Mas tudo será sempre para maior glória de Deus!
Nada mais que isto está acertado. Sei que estarei na Paróquia da Glória, no próximo ano pastoral, com o Pe. Fausto e com o Pe. Virgílio, para continuar a ser feliz e a ser transparência de Deus para todos.
Como me disse, recentemente, alguém que estimo: “Somos padres ao serviço da Igreja, onde quer que seja. Sempre “nómadas”.
Assim quero continuar!

Pe. JAC

18 de julho de 2011

Exultate! Um ano de Ordenação Sacerdotal


Hoje faço um ano de padre. No dia 18 de Julho de 2010, o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, presidiu à celebração da Ordenação Sacerdotal, na Cripta da Basílica do Sameiro, em Braga, na qual foram ordenados dois diáconos franciscanos e mais quatro padres da Arquidiocese de Braga.
Os aniversários da Ordenação Presbiteral são sempre oportunidades para fazermos exame de consciência a fim de discernirmos como está a ser a nossa resposta ao Deus que nos chama e que nos ama.
Neste primeiro aniversário, transborda o meu coração de alegria, como Maria no Magnificat, porque o Senhor Deus continua a operar maravilhas.
No que concerne à minha fidelidade ao chamamento e ao sacramento, Deus, que em conhece melhor que eu mesmo, sabe da minha entrega generosa e do meu empenho quotidiano em servir e em viver de acordo com as promessas assumidas no dia da Ordenação.
Mas se é tempo de balanço também é tempo de projecção. Para já, continuo, conforme vontade e entendimento do meu Arcebispo Primaz e do Sr.Bispo de Aveiro, D. António Francisco, a trabalhar «por mais um ano» na Diocese de Aveiro. É para mim sinal da bela e generosa partilha dos recursos humanos, sabendo que as vocações faltam em toda a parte, e que Braga não é excepção. (Ontem mesmo D. Jorge Ortiga alertava a Arquidiocese para essa questão). Mesmo assim e com esforço, é possível esta partilha entre as Igrejas Particulares (De Braga estão 35 padres a trabalhar fora da diocese, em Portugal e no estrangeiro).

Para o futuro, o mais fundamental passa por continuar a assumir aquilo que prometi no dia da Ordenação. Fidelidade, serviço, entrega são palavras que para mim continuam a nortear o meu ministério.
Fundamental no meio disto tudo é também a oração de todos. Assim como a colaboração estreita daquela bela porção do Povo de Deus que me está confiada no Arciprestado de Águeda, a quem saúdo e agradeço tantos sinais de amizade e estima.

Hoje, exulta também o meu coração pela ordenação do meu conterrâneo, padre José Miguel Fraga Cardoso, que ontem no Sameiro, foi Ordenado pelo Arcebispo Primaz juntamente com o Pedro Daniel.
Exulta o meu coração por D. Jorge ortiga, na passagem de 12 anos de serviço e de responsabilidade enquanto Arcebispo de Braga.
Exulta o meu coração na celebração das Bodas de Ouro Sacerdotais de D. Manuel Monteiro de Castro, ilustre conterrâneo vimaranense que é secretário da Congregação dos Bispos, no Vaticano.
Enfim, exulta o meu coração porque o Deus clemente e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, continua a providenciar, com paternal bondade, o bem de todos os seus filhos, onde me incluo.

Com Karl Rahner continuo a crer e a exultar com isto: “Eles estudam e meditam sobre a ciência de Deus. Eles continuam ainda como aprendizes de Deus. E, contudo, Deus ordena-lhes que comecem a falar daquilo que eles próprios compreendem só a meias. Mas Deus está com eles. Com eles, apesar da sua pequenez e pecado. Eles não se anunciam a si mesmos, mas Jesus Cristo, anunciam o seu nome”.  

Exultate Deo! Te Deum laudamus!
Pe. JAC

12 de julho de 2011

Rainha Santa Isabel ensina a adorar a Deus


Hoje quero centrar a atenção na Rainha Santa Isabel, especialmente em alguns aspectos da sua vida e da sua acção, mas com um objectivo bem claro e bem definido: mostrar que quando veneramos um santo ou santa, um mártir ou alguém que para nós é modelo e referência ao nível da fé, fazemo-lo por neles é Deus que resplandece, porque neles é Cristo, dado e entregue, servo de todos, que resplandece.
Isto para dizer que veneramos os santos porque nos santos vemos Deus, porque em suas vidas eles buscaram essa identificação, essa conformação e configuração cada vez maior com Deus.
E só na relação deles com Cristo, na sequela Christi, eles são colocados diante de nós como exemplos, como modelos de seguimento, como faróis que nos iluminam, como âncoras que nos fazem acreditar e ter esperança.
São santos porque, como S. Paulo, também eles consideraram tudo lixo, por amor a Cristo. Tudo prejuízo, comparando-as com o bem maior que é Cristo. Tudo renunciar para ganhar a Cristo. Por isto é que Paulo, Isabel de Portugal, e tantos e tantos, ao longo de tantos séculos, estão colocados diante de nós como paradigmas para seguirmos a Cristo, com verdade e com radicalidade.
A devoção aos santos, na Igreja Católica, inscreve-se na grande adoração que devemos a Deus Pai e que já vem dos decálogos veterotestamentários. “Escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o único. Amarás o Senhor Teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5).
E o nosso primeiro mandamento estabelece: “Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas”!
A adoração, segundo o CIC (2096), é o primeiro acto da virtude da religião.
Mas, é a Deus que adoramos. Deus Pai, que nos envia o Seu Filho Jesus e nos dá o Espírito Santo, a força do amor que circula entre ambos”. É à Trindade Santa que adoramos. A Ela e mais ninguém. Porque adorar Deus é reconhecê-Lo Criador, Salvador, Senhor de tudo quanto existe.
Adorar a Deus é reconhecer o nada que somos enquanto criaturas diante da grandeza do Criador. Adorar a Deus é louvá-Lo, exaltá-Lo e humilhar-se, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que o seu Nome é santo. A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar sobre si próprio, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo.
Não quero com isto dizer, meus estimados irmãos, que não podemos venerar os santos, chamados amigos de Deus. Nada disso. 
Quero dizer que é de uma total incongruência dizer e viver aquilo que tantas vezes vou ouvindo, no meu ainda curto ministério sacerdotal, e até já antes disso: “Ah senhor padre, eu sou muito cristão. Não passo um ano sem ir a Fátima”. “Ah, senhor padre, tenho uma fé muito grande por este ou por aquele santo”.
E depois, se pergunto se vai à missa, se celebra os restantes sacramentos, se reza a Deus, sem ser para “pedinchar coisas” a resposta é, tantas vezes, muito mais que as desejáveis, negativa.
Sinal eloquente de que isto também não vai bem. Sinal bem claro que precisamos de recentrar e reorientar a nossa devoção aos santos.
Eu sei que possivelmente isto não se passa convosco, caros amigos. Mas também sei que a todos cabe uma missão pedagógica, de ensino da fé, de purificação e de formação de mentes e de consciências.
Volto a reforçar o que já fui dizendo: a devoção aos santos não é adoração, é apenas uma admiração. Esta devoção que podemos ter por algum santo ou santa declarados pela Igreja tem o único objectivo de nos apontar, mostrar e levar ao essencial: Jesus Cristo.
Em muitos momentos as pessoas cometem exageros, dando mais atenção aos santos do que a Jesus. Os santos são apenas exemplos de pessoas que chegaram lá, se tornaram semelhantes ao seu mestre, Jesus.
Em abono da verdade diga-se que a Igreja não quer que sejamos iguais aos santos, mas sim que sejamos semelhantes a Jesus, como eles fizeram. Se o formos, com certeza, seremos santos.
Ao conhecer a vida de um santo, como por exemplo da Rainha Santa Isabel, isso pode e deve fazer brotar em nós o desejo de seguir o caminho que ela seguiu, da virtude, de caridade, de serviço, para chegar até Jesus. Isto é a verdadeira devoção.
Recorremos à intercessão dos santos pelo facto de já serem habitantes do Céu e de estarem unidos totalmente com Jesus Cristo. Temos a certeza da sua intercessão.
Aquilo que S. Domingos dizia já perto da sua morte, ajuda a iluminar a afirmação: “Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida”. No mesmo sentido Teresinha do Menino Jesus dizia: “Passarei o meu Céu a fazer o bem na Terra”.
Nós veneramos e amamos os santos, porque eles foram servos rigorosos e incansáveis imitadores do Senhor, viveram com “os pés na terra” e com o olhar totalmente voltado para o Céu.
 S. Policarpo de Esmirna, discípulo de S. João Evangelista, dizia assim: “Nós adoramos Cristo qual Filho de Deus. Quanto aos santos, amamo-los quais discípulos e imitadores do Senhor e, o que é justo, por causa da sua incomparável devoção pelo seu Rei e Mestre. Possamos também nós ser condiscípulos seus.”
É este amor e esta devoção pela Rainha Santa Isabel que nos congrega neste belo convento onde está sepultada.
Sabemos e acreditamos que, imitando-a na virtude, nos aproximamos de Deus e conformamos o nosso coração com o coração de Cristo.
Permiti, e termino assim, sublinhar dois belos exemplos das atitudes da Rainha Santa, que podem ser importantes, para nós que vivemos neste século XXI.
Por um lado a sua extrraordinária capacidade de diplomacia. A astúcia na resolução e na superação de conflitos, até dentro da sua própria família. Isabel de Portugal foi uma mulher de paz e isso ela nos ensina.
Num mundo, num tempo, marcador por tanto individualismo, que leva a extremismos, a violências, a contendas e a guerras de interesses, a Rainha Santa Isabel eleva-se diante de nós da grandeza daquele macarismo: “bem-aventurados os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus”.
Por outro lado a sua extremosa caridade e a sua intenssíssima vida de oração. Não me sinto, sequer na necessidade de evocar, tantos exemplos de genorosidade, de partilha, de caridade, de amor exercidos pela Rainha Santa durante toda a sua vida. Também se releva a sua profunda vida de oração, donde extraía, com certeza, seiva e vigor, para agir com tanta ousadia e humildade, e para ser, na sua situação e no seu tempo, testemunha tão credível do amor de Deus por toda a humanidade.
A Rainha Santa Isabel é uma escola de virtude e atitudes marcadamente evangélias. Essa escola de vida continua a ser para nós frequentarmos. Nesta escola que é a de Cristo, nós nunca somos mestres; somos sempre aprendizes.
Continuemos a aprender com a Rainha Santa a ser, em cada dia da nossa vida, mais santos e mais humanos.
Seguros estamos que ela intercede por nós e ouve as nossas preces e oração. Com a certeza da fé e da devoção que nos habita: Santa Isabel de Portugal. Rogai por nós!
Pe. JAC.

Caridade cristã, virtude fulcral em tempos de crise


Debruço-me hoje sobre uma das virtudes teologais: a caridade!
Não é novidade para ninguém que vivemos tempos críticos. Tempo de profundas crises. Vemos e ouvimos falar com a frequência de todos os noticiários televisivos e radiofónicos, em todas as estações e canais, e de todas as edições de imprensa escrita de crise e, em especial de crise económica. Parece que já não é dia se não ouvimos algo sobre a crise!
Pois bem: é verdade que a economia é um âmbito da vida das pessoas. Mas não é o único âmbito e nenhuma vida se resume à economia!
O que também é verdade é que o tão badalado termo “crise”, etimologicamente, indica um estágio de alternância, o qual, uma vez percorrido, as coisas diferenciam-se daquilo que costumavam ser. Não existe uma possibilidade de retorno aos antigos padrões. Em si mesma, portanto, crise é uma oportunidade, uma graça, para pensarmos melhor e prepararmos melhor o futuro.
Face ao cenário escuro e tenebroso de crise económica que vamos vivendo, deixai que vos diga, meus amigos, que o Evangelho, o Cristianismo, a Igreja e os Cristãos poderão e deverão ter um papel preponderante de iluminação, de indicação de novos caminhos, de afirmação da esperança, e acima de tudo de manifestação de sinais visíveis e concretos de uma caridade criativa e reinventada.
A exemplo da Rainha Santa Isabel também podemos, nos nossos dias, com mais ou menos bens, com mais ou menos dinheiro, viver a caridade, com tudo o que isso significa.
Não se trata, meus amigos, de uma “caridadezinha”, não se trata de sentirmos “pena” dos pobres e dos excluídos, não se trata de os olharmos como “coitadinhos”. Nada disso. Trata-se de vivermos o Evangelho, na sua radicalidade de boa notícia para todos os homens e mulheres, em especial para aqueles para quem a Palavra, o Verbo de Deus se fez carne. Não foi para os sãos e para os bons que Jesus veio ao mundo, foi para os pequeninos, para os doentes e para os pecadores. É para esses, que também somos nós, que tem que de dirigir a mente e o coração, as palavras e as acções, todos os cristãos, de toda a Igreja, de toda a sociedade.
O Papa Bento XVI dizia recentemente que a acção cristã caritativa “não é apenas uma acção filantrópica, ainda que útil e com mérito”, mas é uma “forma privilegiada de evangelização, à luz do ensinamento de Jesus”.
De facto, é Cristo que nos ensina a ser caridosos e solidários, em tantos ensinamentos, por palavras e por gestos. Deixai que vos diga que também a Rainha Santa Isabel, que de uma forma singular viveu a caridade, aprendeu na escola de Cristo.
A caridade cristã vai além da ajuda material, porque “torna visível a misericórdia infinita de Deus para cada ser humano”.
Esta caridade, diz Bento XVI, consiste em “harmonizar o nosso olhar com o olhar de Cristo, o nosso coração com o coração de Cristo. Desta maneira, o apoio amoroso, oferecido aos demais, traduz-se em participação e em partilha consciente das suas esperanças e dos seus sofrimentos”.
Não estaremos a ser fiéis ao Evangelho se não vivermos a caridade, tal como a Rainha Santa Isabel a viveu e exerceu. “Nós sabemos que a autenticidade da nossa fidelidade ao Evangelho verifica-se também com base na atenção e solicitude concreta que manifestamos ao próximo, especialmente os mais frágeis e marginalizados”, diz Bento XVI.
Viver a virtude da caridade é uma urgência no mundo em que estamos. Além disso, não poderemos esquecer que até a nossa devoção à Rainha Santa Isabel exige de nós o esforço, o compromisso, o empenho, por vivermos a caridade e em caridade. Os cristãos têm que ser testemunhas da esperança neste tempo de crise difundida e generalizada.
Atravessamos uma grave crise de humanidade, de valores. Creio também que a resolução das crises – da económica e de todas as outras – passa por dar atenção aos cidadãos, às pessoas, à Pessoa, na sua unicidade e dignidade sagrada e inviolável.
Por isso, meus amigos, é necessário que saibamos todos “gerir” o melhor património do país que são as pessoas, tal como escrevia recentemente D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro. “O mais importante património a ser bem gerido, são as pessoas concretas: crianças, jovens, adultos e mais idosos; saudáveis, doentes e com deficiências; da cidade, do litoral ou das aldeias do interior; empregadores, trabalhadores e desempregados; residentes, emigrados e imigrados; gente letrada ou apenas de letras gordas”.
E especificava o Prelado: Pessoas para acolher com respeito, para reconhecer as suas capacidades, para propor medidas concretas de apoio e promoção, para proporcionar igual reconhecimento de direitos e deveres. Pessoas, valor incalculável que dá sentido a tudo o que é património histórico, cultural, religioso, artístico. Nada que tenha valor, o tem à margem das pessoas”.
É fundamental que cada pessoa tenha consciência de que somos sociedade e que o caminho da construção de um mundo melhor deve assentar na ideia da solidariedade e do bem comum. Por isso mesmo, a busca do bem-estar individual e pessoal não deve e não pode sobrepor-se à busca do bem comum.
Em tempos de crise, que atinge fortemente os mais pobres, afectando os poucos recursos da sua subsistência, são cada vez mais necessárias “pessoas plasmadas pela atitude da caridade”.
“Mesmo que não sejam ricas em bens materiais, a sua atitude aberta e solidária com os mais pobres, é criadora de confiança e de esperança naqueles que sofrem e provoca neles uma reacção positiva, necessária para vencer as crises que os afectam e não desanimar por isso”. 
Em 2009, o Papa Bento XVI lançou a terceira encíclica do seu pontificado e dedicou-a às questões sociais, dando-lhe o sugestivo título “Caridade na Verdade”.
Nela, o Papa diz que o amor – caritas – é uma força extraordinária que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz.
Para Bento XVI, Jesus Cristo testemunhou com a sua vida a caridade na verdade, tornando-a a principal força propulsora para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira.
Nós sabemos que a caridade é a via mestra, trave mestra, da doutrina social da Igreja. Esta doutrina social, iniciada pelo Papa Leão XIII, mas que brota já do Evangelho, proclama a verdade do amor de Cristo.
O Santo Padre afirma que é necessário conjugar a caridade com a verdade. Trata-se da verdade na caridade e da caridade na verdade. A verdade é luz que dá brilho e valor à caridade. Sem verdade a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, sem nada. A verdade liberta a caridade.
A caridade na verdade ganha forma e acção na justiça. E chega mesmo a superar a justiça, porque amar é dar, oferecer aquilo que é “meu”; mas nunca existe sem a justiça, que leva sempre a dar ao outro o que é “dele”, o que lhe pertence.
Não posso “dar” ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça. Quem ama os outros com caridade é justo para com ele. Por isso, a justiça é inseparável da caridade.
A caridade na verdade também ganha forma e acção na busca e defesa do bem-comum. Amar alguém é querer o seu bem e trabalhar pelo bem comum, ou seja o bem daquele “nós-todos”, onde nos inserimos. Querer o bem comum e trabalhar por ele é exigência da justiça e da caridade. Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê resposta também às suas necessidades reais.
O amor na verdade é um grande desafio, caros amigos. A partilha dos bens e recursos não é assegurada pelo simples progresso técnico e por meras relações de conveniência, mas pelo potencial de amor que vence o mal com o bem (Rm 12,21) e abre à reciprocidade das consciências e das liberdades.
A Igreja não tem soluções técnicas e nem cabe a ela tê-las. A Igreja também não pretende imiscuir-se na política. Mas ela tem uma missão a cumprir a favor de uma sociedade à medida do ser humano, da sua dignidade e da sua vocação. Por isso ela indica o caminho da caridade na verdade.
Minhas irmãs meus irmãos: precisamos de redescobrir a caridade como a maior virtude, tal como nos diz S. João. Acima de tudo precisamos de a ter como virtude e atitude fulcral nestes tempos difíceis de crise que vamos vivendo.
Sabemos, até pelo Evangelho, que as necessidades e a pobreza de tantos homens e mulheres do nosso tempo nos interpelam: é o próprio Cristo que, nos pobres, nos indigentes, nos marginalizados, nos pede que saibamos aplacar a sua fome, a sua sede, os visitemos nas prisões, nos hospitais.
O conhecido discurso de Mateus sobre o juízo final é sinal alerta para todos os cristãos. Nós sabemos, que no fim de contas seremos medidos com a medida que medirmos, seremos julgados – como dizia S. João da Cruz – pelo amor.
Com Bento XVI, acredito que a caridade é capaz de provocar uma autêntica revolução e uma mudança permanente na sociedade. Como Cristo, vivendo para servir – quem não vive para servir, não serve para viver – podemos dar ao mundo subjugado pela desesperança e pela derrota razões para viver.
A Rainha Santa Isabel ensina-nos a moldar o nosso coração ao jeito e ao modo do de Cristo, para vivermos a caridade e em caridade.
Do Céu, ela também nos desafia e intercede por nós para sermos fortes e valentes na vivência da caridade, num mundo tão sedento de gestos e sinais concretos e visíveis de amor, de caridade. 
Sejamos testemunhas do amor de Deus, em particular por aqueles que são os seus predilectos: os pequeninos, os simples e os pobres.
Ser cristão, ser devoto da Rainha Santa também passa pela nossa vivência da caridade. Ousemos sê-lo neste tempo.
Pe. JAC

Família, torna-te aquilo que és!

Nos dias 1, 2 e 3 de Julho estive em Coimbra, no Mosteiro de Santa Clara a Nova, a fazer as pregações da Festa da Rainha Santa Isabel.
Partilho algumas linhas das minhas pregações:

Escolhemos para este primeiro dia de pregação a temática da família. Trata-se de um “tema nunca esgotado, apesar de vivermos mesmo num mundo secularizado”, como escreveu D. António Marcelino.
Gostaria de a olhar na sua essência e natureza, mas deixando o desafio premente que João Paulo II, já deixava na Familiaris Consortio: “Família, torna-te aquilo que és”.
É comummente aceite que a família é base da sociedade é o tecido estruturante e fundante de qualquer sociedade. A família é fundamento de qualquer comunidade humana.
É bem verdade que as mudanças culturais, sociais e económicas são vertiginosas nestes tempos em que vivemos. Todavia, há coisas que não mudam, e ainda bem, tal como a família.
Disse o Bispo Emérito de Aveiro: “Há coisas que não mudam, mesmo que muitas coisas mudem ou pareçam mudar à sua volta. É o caso da família. Mudaram algumas das suas tarefas tradicionais; mudou o estilo de relação no interior do agregado familiar; surgiram novas oportunidades de intervenção de ordem social e política; alargou-se o fenómeno associativo; a opinião pública deparou-se com uma série de leis referentes à instituição familiar, enquanto tal; deu-se um decréscimo significativo do número de casamentos na Igreja, sempre que se deparou com a indissolubilidade do vínculo conjugal, numa sociedade que reage a compromissos que comportam exigências de permanência; experimentou-se o confronto com outras situações e expressões familiares; viveu-se a evolução, não paralela, de filhos que acederam a uma escolaridade alargada e de pais pouco alfabetizados…
Porém – caros amigos, devotos da Rainha Santa – apesar de todas as convulsões sociais e de leis que a pretexto de pluralismo e direitos individuais, pretendem atingir a instituição familiar, perduram e continuam na família riquezas intocáveis, que constituem o reduto da maior riqueza do país.”
Apesar de muitos reconhecerem a necessidade de se investir na família, na sua defesa, sabendo que aí passam os caminhos de solução para ultrapassar muitos problemas, tantas vezes assistimos a graves e directos ataques ao coração da instituição familiar. Perante todos os ataques à família, a Igreja, perita em solidariedade, não pode cruzar os braços e lamentar-se. Como dizia Bento XVI, na recente visita à Croácia: “Somos chamados a contrastar esta mentalidade”.
E o estado das coisas, meus amigos, é escuro:
Quando temos idosos mortos e a morrer, sozinhos e fechados nas suas habitações, durante dias, meses e muitos anos… algo não vai bem!
Quando temos e vemos uma cultura da violência em meio escolar, tão grave e horrenda, como as que vimos todos ainda há pouco tempo… algo não vai bem!
Quando tempos políticas para matar humanos e não as vemos, nem de perto nem de longe, para apoiar a natalidade… algo não vai bem!
Em 1995, o Papa João Paulo II, na encíclica “O Evangelho da Vida”, já apontava a “impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas”. “Este panorama inquietante – escrevia o Papa – longe de diminuir, tem vindo a dilatar-se”. E as coisas mantêm-se na mesma batuta!
Grave, caríssimos irmãos, no meio de tudo isto é o facto de esses atentados à vida e à dignidade das pessoas e das famílias não serem vistos e entendidos, numa larga consciência colectiva, como crimes, para assumir paradoxalmente o carácter de direitos.
Caso emblemático disto mesmo, dentro do nosso pequeno Portugal, é a despenalização do aborto que, tal como os dados que vão sendo publicados manifestam, se tratou e trata mais de uma liberalização, com poucas fronteiras e poucos limites.
Se não, como se explica que desde que entrou em vigor a nova legislação a mesma mulher possa ter feito 10 abortos? E quem financiou isto? Sabem todos a resposta!
E depois pensar e dizer que a “pretensa” despenalização do aborto, conforme a nossa legislação, é um sinal de progresso e de conquista da liberdade pessoal é assustador. Um Estado, um País, uma Nação que paga para matar humanos e que é tão “forreta” – permitam-se dizer assim – a ajudar e a subsidiar famílias que optam e querem ter filhos.
No mesmo documento, João Paulo II notava já este contra-senso: “na época em que se proclamam solenemente os direitos invioláveis da pessoa e se afirma publicamente o valor da vida humana, o próprio direito à vida é praticamente negado e espezinhado, particularmente nos momentos mais emblemáticos da existência como são o nascer e o morrer”. 
E não adiantará muito buscar fundamentações para o direito ao aborto. Alguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da concepção, pelo menos até um certo número de dias, não pode ainda ser considerado uma vida humana pessoal.
Na realidade, porém, «a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde então. Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo para se organizar e encontrar prontas a agir”.
Meus amigos: as políticas e todas as legislações que se opõem à família, à vida, à natalidade, à defesa dos mais frágeis são atentados ao futuro social e colectivo de qualquer sociedade. E a Igreja não pode calar. Não nos podemos resignar.
Permiti-me registar, contudo, alguns sinais, no que respeita à questão da família e natalidade, que constam do agora conhecido programa do actual Governo português. A promoção de um debate nacional sobre a questão do aumento da taxa de natalidade na sociedade portuguesa e a inversão da tendência de queda dessa taxa de natalidade, por meio de apoio à família nos primeiros anos da criança, são alguns pontos que todos esperamos ver mais além do papel, ver executados naquilo que é a vida concreta e diária das famílias portuguesas.
Nós vivemos numa era de relativismo. A todos os níveis. A ética não é excepção. Alguns, não poucos, pensam que apenas este relativismo garante e consagra a tolerância, o respeito recíproco. Ao invés disso, as ditas normas morais consideradas objectivas conduzem ao autoritarismo e intolerância. Mas, em todos os tempos, a moral é farol que ilumina a vida das pessoas.
Não há muito tempo, o agora nomeado Bispo da vossa diocese de Coimbra, D. Virgílio Antunes apontava o dedo a alguns “lóbis que sob a capa da modernidade” promovem posições contrárias à família e à Igreja.
O então Reitor do Santuário de Fátima, dizia que, na sociedade actual, as famílias são alvos de ataques e “grandes campanhas”. Utilizou mesmo a figura de Herodes para caracterizar todos os que se levantam para matar a família.
Em San Marino, durante um encontro com os membros do governo local, no passado dia 19 de Junho, o Papa Bento XVI destacou a importância de reconhecer a família como principal sujeito para fazer amadurecer pessoas livres e responsáveis, no contexto actual em que esta instituição é tantas vezes colocada em xeque.
O Papa afirmava que “os que sofrem as consequências são os grupos sociais mais frágeis, especialmente as jovens gerações, mais vulneráveis e por isso mais facilmente expostas à desorientação, a situações de auto-marginalização e à escravidão das dependências”.
Neste sentido, constata-se que, “diminuindo o apoio familiar”, frequentemente os jovens se vêem diante de muitos obstáculos “para uma normal inserção no tecido social”.
Por isso, “é importante reconhecer que a família, assim como Deus a constituiu, é o principal sujeito que pode favorecer um crescimento harmonioso e fazer amadurecer pessoas livres e responsáveis, formadas em valores profundos e perenes”.
Nós precisamos hoje de fortalecer a família. Aí está o caminho para curar muitos males da sociedade. Nós não precisamos de medidas paliativas para a família. Não podemos pactuar que ela entre em lenta e profunda agonia. Precisamos de revigorá-la, anima-la e dar-lhe alento.
Tal como João Paulo II, sabemos que “a família cumpre a sua missão de anunciar o Evangelho da vida, principalmente através da educação dos filhos. Pela palavra e pelo exemplo, no relacionamento mútuo e nas opções quotidianas, e mediante gestos e sinais concretos, os pais iniciam os seus filhos na liberdade autêntica, que se realiza no dom sincero de si, e cultivam neles o respeito do outro, o sentido da justiça, o acolhimento cordial, o diálogo, o serviço generoso, a solidariedade e os demais valores que ajudam a viver a existência como um dom.”
Deixo desafios alinhados por D. António Marcelino. Diz ele: “Quando penso no tipo das sessões de preparação para o casamento no templo, na celebração festiva do mesmo, nas propostas de acompanhamento dos casais novos e dos casais já menos novos que procuram realizar a sua vocação matrimonial e parental, no acolhimento devido aos casais que vivem novas formas de convivência conjugal e dos que enfrentam especiais dificuldades no seu dia-a-dia, na situação dos membros mais velhos da família, muitos deles isolados nas suas casas e pensar, também, nos idosos, eternamente silenciosos, que enchem os lares, fico a reflectir sobre caminhos novos de uma renovação pastoral que traduzam com realismo a desejada acção da Igreja em prol das famílias”.
Precisamos, enquanto Igreja, de estar atentos a esta cultura de morte que vai abafando a cultura da vida. Os cristãos têm obrigação e missão de se consciencializaram dos graves atentados que continuam a acontecer diariamente à vida humana e à família.
Nós precisamos de cristãos a tempo inteiro, assumidos, conscientes. Não precisamos de cristãos a prazo, nem “das nove até às cinco”, nem de cristãos de conveniência e cristãos de circunstância.
Precisamos de cristão íntegros, grandes, porque para sermos grandes temos que ser inteiros.
Olhai, caros amigos, que na defesa da família e na defesa da fé cristã, a Rainha Santa Isabel refulge como exemplo e modelo. Nela podemos sempre reaprender a dar à família o valor que tem por natureza e por essência.
A sua extraordinária capacidade de apaziguar ânimos e contendas dentro e fora da sua família. As suas muitas virtudes de esposa fiel, de mãe atenta, amorosa e carinhosa, de mulher solícita em todos os momentos. Só a título de exemplo, recordar a bela lição de Santa Isabel que, na lenta agonia de D. Dinis, quis, ela mesma, tratar e cuidar do seu marido…
Tantos ensinamentos urgentes para o tempo de hoje. Um tempo onde as pessoas deixaram de se comprometer com o que quer que seja, um tempo onde a palavra “fidelidade” se esvaziou de sentido e de empenho pessoal.
Um tempo em que a família vai perdendo tanto, tantas oportunidade de vitalidade, de dinamismo, de alegria, de comunhão, de partilha, de amor…
Minhas irmãs e meus irmãos: que a Rainha Santa Isabel nos ensine a valorizar a família e nos ajude a assumir os nossos compromissos em relação à defesa da vida, em todos os momentos e circunstâncias.
Do Céu Ela intercede por nós ajudando-nos a enfrentar as agruras do tempo presente e a vivê-lo com esperança de futuro, sabendo que Cristo está connosco até ao fim dos tempos.
Pe. JAC

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...