26 de setembro de 2011

É preciso mais do que palavras! (última homilia na Igreja de Águeda-UPA)



1. Irmãos e irmãs: palavra recta e directa de Jesus: “Os publicanos e as mulheres de má vida irão adiante de vós para o Reino de Deus”! Desafio para nós ouvi-la hoje. Em Jerusalém, o Mestre enfrenta a resistência organizada da classe religiosa do velho Israel. É uma espécie de raça eleita, gente fina e segura, acomodada e envelhecida nas cadeiras do poder. São os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo, perfeitos profissionais da religião. São os que dizem e rezam «àmens», cheios de devoção. São estes que agora recusam acolher Jesus. Perseguem-nO, com medo da sua Palavra, espada afiada que os fere de morte. Seguros do seu passado, não querem mudar as regras de jogo. Tornam-se insensíveis a qualquer apelo de mudança, fechados à novidade, indispostos à conversão... O seu passado de glória vê-se agora transformado em risco de perdição.
2. Na parábola, Jesus adverte para o risco de passarmos a vida a dizer «sim, senhor», mas quando chega a hora de dar a cara e «arregaçar» as mangas, encontrarmos sempre razões para dizer «não». Os líderes religiosos do Povo de Israel, representados no segundo filho, sempre disseram «àmen» a tudo e a todos, mas recusam dar o «sim» àquele que o Pai enviou. Para estes, a palavra dada reduz-se a um discurso de circunstância, a invocar, três vezes ao dia, o santo nome de Deus em vão! Estes ficam para trás... no caminho do Reino.
3. Adiante destes, do outro lado da margem, estão os pecadores. Os desgraçados, os filhos perdidos, as vítimas do poder e do pecado de todos: entre eles, os publicanos e as mulheres de má vida. Esses tais que nem rezavam «àmens» e carregavam o peso de um passado ferido de miséria. Esses não tinham nada a perder. Acolheram o grito de mudança, proclamado por João Baptista, e entregaram-se à causa de Jesus. Arrependidos, encontram a força da sua liberdade e vão à frente… no caminho do Reino.
4. Vão adiante porque a sua miséria não é sinónimo de podridão e a sua rebeldia não se confunde com a desobediência. Vão adiante porque a sua fidelidade não se cumpre por desafecto e porque deixam para trás um passado que se abate... e não presumem garantido o seu futuro. Vão adiante porque há neles uma dignidade que se esconde por trás do pecado... enquanto noutros há o pecado que se esconde sob a capa de uma dignidade (eclesiástica, política, social...). Sim, meus amigos, “os publicanos e as mulheres de má vida irão adiante de [NÓS] para o Reino de Deus”! Jesus sabe e conhece a amargura das suas vidas, a concentração do vício alheio a minar-lhes o coração. Ele não teme nem as palavras nem os gestos de acolhimento... Vão adiante porque a sua grandeza de alma, dorida e limpa, é maior do que a pacatez de espírito daqueles praticantes profissionais da religião tradicional. Vão adiante, as mulheres de má vida, não pelo pecado cometido, mas pelo desejo de mudança. Vão adiante porque, ao apelo de conversão, acreditaram e mudaram de vida e porque arrepiaram caminho ao escutar a parábola, revendo-se no primeiro filho, acabando por assentir não à palavra dada, mas à Palavra, que é o Verbo, Jesus Cristo, recebida com alegria.
5. No fundo, esta parábola e o pensamento expresso pelo profeta da esperança, na primeira leitura, conduzem-nos à certeza de que, para Deus, não há o fatalismo do passado nem para ninguém a garantia do futuro. Para Deus, nenhum de nós é um caso perdido... há sempre uma oportunidade de salvação... E resta sempre o aviso sério de que ninguém se julgue grande e seguro... porque estamos sempre sob o risco da perdição...
6. Meus caríssimos irmãos. Depois das mãos e dos braços, para o trabalho da vinha, o Senhor pede-nos agora o abraço do coração. Pede-nos um «sim» de corpo e alma, um «sim» de alma e coração. É preciso dizer e fazer. Ou melhor ainda, fazer, sem dizer. Mais: é preciso sentir o que se diz, sentir ainda mais o que se faz. Trabalhar com a força dos braços, mas ao ritmo certo do coração manso e humilde de Cristo.
7. É urgente, veemente e permanente o apelo à conversão. É preciso vencer rivalidades, com um elevado espírito de serviço. O próprio Cristo que era de condição divina fez-se servo! É preciso sobrepor a humildade à vanglória. O próprio Cristo que era de condição divina não se valeu da sua igualdade com Deus! É preciso submeter o interesse próprio a uma fiel obediência ao bem de todos. O próprio Cristo humilhou-se ainda mais, até à morte e morte de Cruz!
8. Neste jogo arriscado da nossa vida resta-nos andar de “bola baixa”, “rasteiros”. Sem este «abaixamento», onde cada um depõe as armas do orgulho e do interesse próprio, não há condições de unidade e de paz... no seio da Igreja, na vida das nossas comunidades e no nosso mundo. Humildes no pecado, para acolher a misericórdia e encontrar a vida e humildes na virtude, para não presumir de nada e vir a sucumbir na morte... «É sempre tempo para mudar» e tudo será mais fácil se tivermos entre nós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus! Ousemos aceitar a proposta!
 Pe. JAC

17 de setembro de 2011

A mesma missão: ser transparência de Deus em terras aveirenses (Nota a respeito da nomeação para a Paróquia da Glória-Sé)













 
1.A qualidade das coisas boas da vida não pode ser medida por nenhuma quantidade. A qualidade das relações estabelecidas durante os quase dois anos passados em Águeda, mais concretamente nas nove paróquias que compõem a UPA, também não pode ser quantificada. Foram tempos – menos de dois anos é pouco, mas se somarmos os meses, os dias, as horas, os segundos já dá muito mais – ricos e belos, carregados de experiências, de partilha. Tempo de ser Igreja com os outros, nesta bela e exigente experiência de Unidade Pastoral.

2.Aqui cresci também como homem e como cristão. Aqui aprendi a ser padre ao jeito e ao modo do coração do Bom e do Belo Pastor. Aqui recebi muito mais do que o pouquinho que dei. E isto gera gratidão no meu coração. Gratidão, em primeiro, a Deus que permitiu esta passagem em terras aguedenses. Gratidão à Igreja, quer a de Braga, que possibilitou a minha vinda, quer a de Aveiro, que concretizou essa vinda. Gratidão aos padres que comigo fizeram Unidade Pastoral. O Pe. José Camões, o Pe. Jorge Fragoso, o Pe. José Carlos e o Pe. Francisco Rebelo. Com eles foi e é fácil fazer equipa. Foi belo crescer como irmãos no ministério. Gratidão ao diácono Semedo e ao diácono Afonso, eu diácono como eles quando cheguei a Águeda, porque com eles aprendi esta entrega generosa ao Evangelho e à Igreja de Cristo. Gratidão ao santo Povo de Deus que nas nove paróquias da UPA querem fazer a sua fé mais consciente e madura. De Macieira, Préstimo e Castanheira, de Barrô e Borralha, de Trofa, Lamas e Segadães e de Águeda recebi, em todos os lados, belos testemunhos e exemplos de fé e de caminhada cristã, e conscientes compromissos na vida e na missão da Igreja, que se pretende e precisa para os nossos tempos. A minha gratidão estende-se a todos os padres do Arciprestado de Águeda. Em primeiro o seu arcipreste, Pe. Júlio Grangeia e todos os outros: padres Costa Leite, Manuel Armando, Paulo Gandarinho, João Paulo, e também ao Pe. Tavares. Obrigado a todos pelo testemunho de vida sacerdotal. Nos párocos reconheço o carinho, amizade e estima recíproca de todos os cristãos que peregrinam neste Arciprestado de Águeda.

3.Vou para a cidade de Aveiro mas uma boa parte do coração já fica e já tem o selo de Águeda. Parafraseando Ana Moura num belo fado, também eu hoje digo: “até ao fim do fim, eu vou-te amar”. Porque o podeis contar da minha parte, espero de todos, daqui em diante, a mesma amizade e a mesma oração. Pede-me a Igreja de Aveiro, por intermédio do seu Pastor, D. António Francisco, que sirva na comunidade paroquial da Glória, em Aveiro. É a comunidade onde se situa a igreja-mãe da Diocese, a Sé Catedral, onde nos poderemos encontrar em variados momentos e celebrações diocesanas que lá decorrem. Como sempre, e porque foi para isso que a Igreja me ordenou, aceitei a proposta, na certeza de que levo o mesmo entusiasmo que trouxe para Águeda, a mesma alegria e a mesma energia. Como me disse, recentemente, alguém que estimo: “Somos padres ao serviço da Igreja, onde quer que seja. Sempre “nómadas”. Assim quero continuar!

4.Permiti que saúde o Nuno Queirós, um nortenho como eu, que fará o seu estágio para a ordenação diaconal e presbiteral, aqui na UPA, neste Arciprestado de Águeda. Desejo que seja feliz nestas terras e possa ajudar outros a serem felizes, falando-lhes da grande felicidade que é seguir a Cristo, Modelo e Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
5.António Machado, o poeta sevilhano, escreveu: Caminhante, são teus rastos/ o caminho, e nada mais;/ caminhante, não há caminho,/ faz-se caminho ao andar(…). Meus amigos: o nosso andar cruzou-se. Mas os nossos trilhos não terminam. Continuamos a andar ainda que com coordenadas diferentes. Mas vamos em frente. Prosseguimos seguros na mão de Deus. Até sempre!

Pe. José António Carneiro

9 de setembro de 2011

Os padres ao serviço da Igreja e Homenagem...


Escreveu-se assim no boletim "Caminhando" da UPA, de Agosto-Setembro. Texto do Pe. José Camões
Porque somos inevitavelmente uns dos outros criamos ligação que se aprofunda na medida em que entrelaçamos as nossas vidas: os momento de alegria, convívio, diversão deixam uma marca cujo tempo facilmente apagará; outras situações em que vamos partilhando anseios, problemas, projectos… assinalam mais funda a nossa relação e interdependência; momentos como os que nos fazem mergulhar tantas vezes na dor, no sofrimento, na construção comum de algo melhor, na partilha da experiência pessoal que se traduz em busca de sentido para a vida são pedras de uma construção que se solidifica com mais facilidade…
A vida do padre enquadra-se nesta última categoria, dada a sua missão específica; logicamente que se sinta com mais profundidade a separação, a mudança.
Já é de todos conhecida a saída do Pe. Zé António da equipa da Unidade Pastoral (UPA) para outro serviço a que a Igreja o chama (ainda na nossa diocese) através da pessoa do Bisp diocesano.
Resta-nos dar graças a Deus pela sua presença entre nós ao longo destes quase
dois anos, pelos desafios que deixa na experiência da UPA e pelos dons que o
Senhor lhe concedeu para poderem render ao serviço desta Igreja que somos.
Por outro lado, dada a dimensão pastoral em que estamos envolvidos, vamos poder beneficiar e ser apoio para um jovem que se encaminha para o sacerdócio que virá integrar a nossa equipa. O Nuno Queirós terminou já o curso teológico enquanto colaborador na paróquia de Esgueira, e fará connosco uma experiência pastoral em contexto mais alargado e diversificado; um jovem, natural de Santo Tirso, que quer responder ao apelo que o Senhor da Messe lhe faz.
Vamos acolhê-lo e ajudá-lo na generosidade que o Evangelho propõe: esta será a medida para podermos ser ajudados…

(E na última página escreveu-se assim:)

HOMENAGEM AO PE. ZÉ ANTÓNIO – QUERES
PARTICIPAR?
Não deve ser apenas por “ser de bom tom”. Será muito melhor se for por atenção,
gratidão e amizade. Prestar uma homenagem, por mais simples que seja, dá ânimo
e liga-nos mais uns aos outros, prolonga o gosto de viver.
A proposta é que não deixemos que tudo se desvaneça com o tempo, que as boas
recordações não se reduzam a cinza espalhada pelo vento, que o esforço e
dedicação do tempo que o Pe. Zé António esteve connosco não desapareçam sem
deixar marca.
A melhor e maior gratidão que o Pe. Zé António agradece é ter consciência de que
o que ele ensinou e se esforçou por fazer compreender e viver seja prolongado
na vida de cada um. Essa a homenagem que ele merece.
Ele ensinou os jovens e adultos a conhecer o Evangelho e a vivê-lo; dedicou-se a
fazer compreender como se pratica a fé cristã; deu exemplo do que é ser cristão
no mundo de hoje; mostrou como a participação semanal na Eucaristia é alimento
indispensável para o testemunho da fé em Jesus Cristo; ajudou a compreender que
o perdão de Deus nos chega através do sinal da reconciliação; deixou sinal de
que a oração é apoio inseparável da vida.
Como o Pe. Zé António ficará feliz ao saber que os que ele acompanhou nestes quase
dois anos continuam a cumprir, a viver o que ele ensinou! A tristeza maior que
o irá acompanhar seria vir a saber que uns deixaram de estar na missa, outros
abandonaram a catequese, outros voltaram as costas à Igreja a que pertencemos…
Tu que conheceste e acompanhaste o Pe. Zé António ao longo destes quase dois anos,
queres associar-te a esta homenagem? Estás disposto/a a saber agradecer a Deus
o dom que nos foi dado na sua pessoa, vivendo com mais entusiasmo e empenho a
fé cristã como a Igreja nos ensina?
Não há melhor homenagem! O Pe. Zé António ficará com a alegria de não ter sido
inútil a sua dedicação e trabalho nestas terras de Águeda onde se sentiu bem
acolhido.

5 de setembro de 2011

Do inesperado das coisas!


A inquietante busca do sentido das coisas
Leva-me a sentir, tantas vezes,
Que flutuo e navego em turbilhão.

A alegria do sentir-se amado e querido
Nem sempre causa satisfação e felicidade!

E pergunto-me se falhei e onde falhei…

Mas também aprendo com outros mestres
Que me dizem
Que nas coisas das relações
Nem sempre tem que haver falha!

Acontece!
Imprevisível!
Inesperado!

Mas, não deixa de ser um alerta
A deixar-me mais desperto
E a precaver o futuro!

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...