26 de abril de 2012

Quantos católicos somos?






















Está realizado o “retrato religioso” da sociedade portuguesa. A Conferência Episcopal Portuguesa encomendou um estudo à Universidade Católica e os resultados apresentados não deixam de ser inquietantes. Portugal é ainda um país de “marca católica”, mas em pouco mais de dez anos, o número de católicos passou de 86,9% para 79,5%.

Resultado vistoso: Manchetes em muitos jornais nacionais. Notícias nos mais diversificados meios de comunicação social anunciando “Número de católicos em Portugal em queda” e “Igreja Católica perde para todos”.
Das conclusões apresentadas no estudo conclui-se que o Catolicismo em Portugal tem “rosto feminino” e “pronúncia do Norte”, revelando que mais de 56% dos católicos são mulheres e que mais de 43% vivem no Norte de Portugal. Outro dado apresentado, e que de resto acompanha a tendência da sociedade portuguesa, tem a ver com a média de idade dos que se dizem católicos. Mais de 55% dos católicos têm mais de 55 anos.
Muitas coisas se podem argumentar diante destes números que, para a Igreja Católica, deverão ser um sinal dos tempos e como tal, segundo imperativo conciliar, deverão ser lidos e analisados objectivamente.
Não podemos ficar impávidos e serenos diante dos números. Não podemos sacudir a “água do capote” como se não fosse nada connosco. Os números não nos devem assustar, mas podem e devem alertar-nos a todos. Sim, a todos os que nos dizemos e procuramos ser cristãos católicos todos os dias, a toda a hora, e não apenas “das 9h às 5h da tarde”.
Preocupa-me evidentemente que os católicos sejam menos. Mas preocupa-me bem mais que não sejam aquilo que deveriam ser.
Se olharmos para os itens do inquérito mais preocupado fico quando se percebe que muitos dos que se afastam de uma prática religiosa o fazem por causa de mau exemplo de pessoas religiosas que conhecem.
De facto, o alerta que estes números causam não poderá ficar apenas para a hierarquia católica - ainda que convém que faça a sua parte (não me demito da minha!) -, mas é à Igreja Povo de Deus, Povo Sacerdotal, que estes números devem inquietar. Há, evidentemente, muitas coisas que é preciso rever continuamente, novas linguagens a assumir, testemunhos de vidas felizes a apresentar… e, acima de tudo, que a tão badalada “nova evangelização” seja aquilo que enuncia: que seja nova e renove!
Para mim é absolutamente mais urgente que os católicos sejam verdadeiramente cristãos. Ou seja, que Jesus Cristo seja o centro e o sentido, a meta e a finalidade, o horizonte e a felicidade, porque a Salvação. Isso é o mais fundamental! Acredito que se formos bons cristãos seremos bom exemplo e pelo exemplo irradiaremos a beleza de Cristo, à imagem das primeiras comunidades cristãs das quais já esquecemos o “vede como eles se amam”.
Permito-me citar uma amiga que escreveu no seu blogue, fazendo a leitura deste estudo e deixando uma inquietação a partir do relato bíblico do Jovem Rico: “Poderia sumariar a passagem assim: O projeto é "este", amigo! Vens e segues-me? Será bom, se vieres. Ficarei feliz. Construiremos juntos. Mas a liberdade de escolha é tua... e seguiu caminho com quem O quis acompanhar. Todos eram bem-vindos. E todos os dias eram novos. E havia dúvidas, mas as respostas eram intensas. E todos acreditavam, e escutavam, e convertiam-se. Celebravam. E não era rotina. Era festa!”.
(Crónica escrita para o Jornal Expresso do Ave)

18 de abril de 2012

"História" de um belo Encontro



Santo Inácio de Loyola faz-nos a contemplar um encontro entre a Mãe e o Filho Ressuscitado. O Fundador dos Jesuítas deixa claro que é de se esperar e de acreditar que a primeira aparição de Jesus após Sua ressurreição – ainda que não relatada na Escritura – tenha sido à sua Mãe. É uma ideia razoável. Não só por Jesus ter sido um bom filho e desejar terminar com a dor da Mãe, mas também pelo mérito próprio de Maria: é justo que aquela que primeiro aceitou fazer a vontade de Deus e que com o seu “Sim” mudou o rumo da história humana fosse a primeira portadora da grande novidade – a vida venceu a morte! Jesus está vivo!
Ninguém sabe como foi esse encontro. Ninguém sabe o seu conteúdo. Podemos apenas acreditar nele e vê-lo com os olhos da fé. É uma contemplação riquíssima: Mãe e Filho livres da dor e do sofrimento, perdidos no tempo a conversar sobre todos os acontecimentos, cheios de alegria e de consolação.
A certeza da ressurreição de Cristo não ficou apenas no encontro entre Mãe e Filho. Nós somos herdeiros desta boa nova. Fazer este caminho com Jesus, acompanhados pela Mãe, exige a cada um de nós viver a doação, como Cristo, uma vez que ser cristão é viver o nosso ser enraizado e enxertado em Jesus Cristo, pelo Baptismo.



(exerto do sermão do encontro que fiz este ano na celebração do Senhor dos Passos, em Aveiro)

Saudade!



...o amor que ficou por ser

7 de abril de 2012

Que a Páscoa seja libertação!

A celebração da Páscoa é fundamentalmente um acto de fé que assenta na certeza da ressurreição de Jesus Cristo. Os cristãos acreditam que, na ressurreição do Nazareno, aqueles que O vêem Filho de Deus, têm aí o penhor e a garantia da sua ressurreição pessoal.
Com a celebração pascal, os crentes afirmam a sua fé, manifestam a sua esperança, proclamam a sua alegria porque “Jesus Ressuscitou! Está Vivo!”.
 
A Páscoa permite o encontro das famílias. As férias, cá dentro ou lá fora, promovem a convivência familiar. É, por isso, tempo de alegria e de libertação. Todavia, envolvidos num cenário profundamente preocupante – e não apenas por estarmos “mergulhados até ao pescoço” numa crise económica gravíssima, mas porque a crise é muito mais do que a falta de dinheiro e de liquidez de mercados – como poderemos viver a alegria pascal?
É preciso um acto de fé grande para expressarmos a alegria da Ressurreição quando olhamos para o lado – ou olhamos para a nossa casa – e as preocupações são tantas e tamanhas… Viver a alegria quando não se tem o necessário para viver com o mínimo de dignidade, quando não há emprego, e o que há, tantas vezes, está trespassado de precariedade, exige um acto de coragem e de ousadia.
É verdade que não podemos, de uma vez, inverter os indicadores económicos, que não eliminamos a corrupção dos “senhores que mandam”, que não criaremos emprego suficiente para os mais de 600 mil desempregados… mas a Páscoa dos cristãos pode ser uma ocasião de viragem se, pelo menos os cristãos, se assumirem como portadores de uma alegria e de uma esperança que brotam de Deus e que permite enfrentar as dificuldades com coragem.
A respeito do Dia Mundial da Juventude, recentemente celebrado, o Papa Bento XVI dirigia uma mensagem aos mais novos desafiando-os a levarem a alegria, que é “elemento central da experiência cristã”, a um mundo marcado pela tristeza e inquietação.
Dizia o Papa que “o verdadeiro cristão nunca está triste ou desesperado, mesmo diante das provas mais duras, e a alegria cristã não é uma fuga da realidade, mas uma força sobrenatural para enfrentar e viver as dificuldades quotidianas”. “O mal não tem a última palavra sobre a nossa vida”, escrevia o Papa.
De facto, quem diria que de uma morte na Cruz – “escândalo” e “loucura” – e da Ressurreição de Jesus operada e cumprida pelo Pai, nasceria uma comunidade de pessoas que, seguindo um Crucificado Vivo, fosse capaz de ser fermento de transformação, não só moral e espiritual, mas também social (e até político) dos seus ambientes? Com a Páscoa e com Deus é possível!
Somos pascais. Aí nascemos como Povo de Deus. Da Páscoa partimos para a missão de transformar o nosso mundo num “pouco de céu”. Que esta Páscoa seja a viragem. Que a Páscoa seja a libertação não só do pessimismo, mas também da apatia e do comodismo. Podemos e devemos não desistir de lutar de viver! Já temos vida, Naquele que nos Deus a vida e se nos dá para podermos viver!

6 de abril de 2012

Sexta-Feira Santa: Silêncio!

Silêncio! 
Jesus morreu!
Calem-se todas as vozes,
Calem-se todos os gritos!

A Palavra das palavras, que é Jesus falou.
Diante da Palavra feita vida,
Diante da Vida feita entrega e doação 
Também eu me calo.
Apenas contemplo. 
Busco a luz de Deus, pela Escritura,
Para olhar o sucedido.

O Filho de Deus feito homem,
Pregado no madeiro,
Por amor até ao fim.

Calo-me para que fale a contemplação.
Calo-me para que fale o silêncio,
Feito oração, feito súplica. 
Calo-me porque faltam as palavras.
Calo-me olhando para a Cruz:
"Eis o homem!"
Eis o nosso Rei.

Ei-lo no algo da Cruz,
Abraçando de uma vez toda a humanidade.

A Tua imagem, Senhor Jesus, morto na Cruz
Por amor a mim
Abarca-me e abraça-me por inteiro.

Agora espero e confio!
Sei que triunfarás
Porque o amor é forte,
Mais forte que a própria morte.

"Tudo está consumado!"
A salvação está operada na Cruz.
Dela, somos todos recebedores.

No escândalo e na loucura da Cruz
Se espelha, por inteiro, a glória de Deus
Sem poder, só podendo amar.

Terminaste a obra, Jesus.
Na manhã do terceiro dia, o Pai fará o resto
E cumprirá a promessa.

Senhor Jesus, já expiraste!
Nós suspiramos pela ressurreição.

Seja como Deus quer!

5 de abril de 2012

Quinta-Feira Santa: Na tua mesa!

Convidados por Ti, Senhor,
Estamos sentados à tua mesa,
Somos teus discípulos;
Cada um na sua individualidade
Porém, todos importantes para Ti.

Tu, Jesus, conheces todos,
Sabes quem Te seguirá e quem Te renunciará e negará,
Quem Te vai vender e quem se vai esquecer depressa...

Não, não permitas, Senhor...

Não permitas que desfrutemos da tua amizade
Para, logo depois, a pormos de lado...
Não permitas que Te abandonemos,
Que Te esqueçamos ou ignoremos...

Precisamos de Ti!

A nossa vida sem Ti fica ressequida,
Insatisfeita e vazia.

E não Te afastes de nós, por amor,
fica para sempre, assim bem perto,
Sentados na mesma mesa,
Juntos, conviviais e comensais,
Fundidos num único Amor!

Adaptado de Juan Jáuregu

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...